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CUMPLEAÑOS ARRABALINOS OU BODAS DA CRIAÇÃO

Por: Wilson Coêlho

ARRABAL/RIO DE JANEIRO

10/08/2007 Tenho me empenhado em realizar uma homenagem, mais do que digna e necessária, ao grande gênio Fernando Arrabal que, aos 11 de agosto de 2007, completa 75 anos de idade.

Esse dramaturgo, nascido em Melilla (Marrocos espanhol), é uma lenda viva, autor de uma vasta quantitativa e qualitativa, a saber: 6 compêndios de poemas, 12 romances, 3 epístolas, mais de 90 peças de teatro, 7 filmes longas metragens e 3 curtas, uma centena de livros de arte, 6 livros destinados ao fracasso, uma centena de telas pintadas, livros sobre a teoria do xadrez, muitos milhares de fotografias, um milhar de artigos para a imprensa internacional, muitas centenas de conferências nas universidades mais prestigiadas do mundo. Tudo isso sem mencionar os importantes prêmios colecionados ao longo de sua trajetória como, por exemplo, o aplauso internacional do Gran Prix de l'Academie Française, o Nabokov de novela, o Espasa de ensaio, o World's Theater, etc. Sem contar que foi laureado aos 10 anos de idade com o prêmio nacional da Espanha de "superdotados", num concurso de matemática. Senão o primeiro, Fernando Arrabal é hoje um dos dramaturgos de maior prestígio e mais encenados nos cinco continentes.

Apesar da dramaturgia de Arrabal ser comumente enquadrada – por críticos e estudiosos do tema – na estética do absurdo, como Eugène Ionesco, Samuel Beckett, Jean Genet, René de Obaldia, Harold Pinter e tantos outros, seu teatro extrapola a tendência desses chamados autores de vanguarda, considerando que, suas obras, diferentemente dos citados dessa corrente artística, conforme ele mesmo, tem horizontes mais selvagens, menos especulativos e mais espetaculares, no sentido espetacular do termo. É dizer que seu teatro não se reduz a uma especulação teórica, mas se constrói dentro do medo e dos pesadelos que compõem a memória de um homem cuja obra e história se confundem. Desse caráter autobiográfico, inclusive, ele mesmo confessa afirmando, em 1969, que "me descubro diante do senhor B. Brecht que pode escrever a vida de Galileu. Eu, quando escrevo, só sei falar de mim mesmo." Os personagens de sua obra são marcados pela sua difícil infância. Depois de descobrir que o pai que fora assassinado pelo generalíssimo Franco, teve que encarar a mãe que a todo tempo teria sido conivente com a situação e, ainda, enfrentou muitos preconceitos e também prisões, auto-exílios e internamentos.

Num certo sentido, esses personagens não têm idade definida, pois a forma como Arrabal em sua dramaturgia explora a linguagem, cria uma espécie de lógica que não faz parte do mundo dos adultos compreendidos ou aceitos como tal. Não é por acaso que se utiliza de jogos de palavras, quase como armadilhas, para tecer uma ironia fina e com cara de ingênua aos pré-juízos da moral cristã-ocidental, através do nonsense, da violência instintiva e das imagens colhidas no inconsciente. Também se faz necessário ressaltar que, independente desta latente tendência em enquadrar sua obra ao absurdo e, ainda, levando em conta o " movimento pânico" (do deus grego Pan, da totalidade), fundado em 1963, por ele, juntamente com Alejandro Jodorowsky e Roland Topor, a obra de Fernando Arrabal faz um diálogo muito importante com as matemáticas, a física quântica e, obviamente, com a Patafísica que, conforme Alfred Jarry, é a ciência das soluções imaginárias.

Fernando Arrabal – muito mais que a genialidade de sua criação – trata-se de um homem que representa a ponte que nos liga a tantos outros grandes do século XX que foram fundamentais para o mundo como hoje o compreendemos no ocidente, tanto na filosofia, quanto nas ciências e nas artes. Não somente pelo fato de ter mais de cinco centenas de obras ilustradas por Amat, Dali, Picasso, Miotte, Echarri, Saura, Magritte e tantos outros, mas também porque – além desses – conviveu com Sartre, Simone de Beauvoir, Duchamp, Breton, Beckett, Ionesco e tantos mais que compõem o seu paideuma.

Enfim, Arrabal completa 75 anos e, por mais que tenha criado e contribuído para a cultura e às artes, corajosamente, em suas conferências, proclama a morte aos titãs, afirmando que tudo está por se fazer num mundo que – por ainda estar em construção – não é definitivo, principalmente, porque não deu conta de suas criaturas.

PROGRAMAÇÃO
06, 07 e 08 de agosto – Oficina de leitura dramática com os textos FANDO E LIS, GUERNICA, ORAÇÃO e A BICICLETA DO CONDENADO, de Fernando Arrabal, coordenada por Wilson Coelho na cidade de Rio Branco (Acre).

10, 11 e 12 de agosto – Oficina de leitura dramática com os textos FANDO Y LIS, GUERNICA, ORAÇÃO e A BICICLETA DO CONDENADO, de Fernando Arrabal, coordenada por Wilson Coelho na cidade de Porto Velho (Rondônia).

11 de agosto – Leitura dramática do texto FANDO E LIS, direção de Wilson Coêlho, na cidade de Bom Jesus de Itabapoana (Rio de Janeiro).

11 de agosto – ARRABAL OU DO XADREZ AO LANCE DE DADOS, palestra de Wilson Coelho na cidade de Porto Velho (Rondônia).

14, 15 e 16 de agosto – Oficina de leitura dramática com os textos FANDO E LIS, GUERNICA, ORAÇÃO e A BICICLETA DO CONDENADO, de Fernando Arrabal, coordenada por Wilson Coelho na cidade de São Luís (Maranhão).

17 de agosto – ARRABAL OU DO XADREZ AO LANCE DE DADOS, palestra de Wilson Coelho na cidade de Parnaíba (Piaui).

17 de agosto – PIC-NIC NO FRONT, de Fernando Arrabal, direção de Anne Amorim, com debate de Wilson Coelho, na cidade de Parnaíba (Piaui).

18, 19 e 20 de agosto – Oficina de leitura dramática com os textos FANDO E LIS, GUERNICA, ORAÇÃO e A BICICLETA DO CONDENADO, de Fernando Arrabal, coordenada por Wilson Coelho na cidade de Parnaíba (Piaui).

22, 23 e 24 de agosto – Oficina de leitura dramática com os textos FANDO E LIS, GUERNICA, ORAÇÃO e A BICICLETA DO CONDENADO, de Fernando Arrabal, coordenada por Wilson Coelho na cidade de Teresina (Piaui).

*Wilson Coêlho é dramaturgo, escritor e Auditor Real da Escola de Patafísica de Paris